O uso de QR code em petições jurídicas — um caso de estudo de UX ?

Larissa Lima
3 min readJan 20, 2021

O uso de elementos visuais em petições jurídicas viralizou em 2020 se tornando a última moda entre os advogados mais antenados. Cursos e mais cursos foram criados e propagados ao longo de 2020, nos quais os colegas advogados foram convidados a experimentar o sabor delicioso da criatividade em suas petições

O design e o direito se encontraram no grafismo e essa relação passou a ser explorada de maneiras diversas, quando metodologias conhecidas de um segmento passaram a ser adotadas e adaptadas no outro.

Contudo, antes embarcar nesse trend é preciso ter um pouco de cautela na hora de aplicar esses elemento gráficos na prática jurídica.

Se tem algo que tenho ouvido bastante nesses últimos meses como estudante de UX Design é que a estética não é o objetivo final do seu trabalho. “Esqueça a ideia de só fazer telinhas bonitas”, diz um professor de ux design, “você tem que pensar no usuário (…)”, continua ele.

Pois bem. Você, advogado, que está se inserindo nesse universo de petições visualmente bonitas e de leitura confortável aos olhos … já parou para pensar em quem é o usuário de sua petição?

Veja bem. O uso de elementos visuais é muito bem vindo quando se tem um real motivo por trás, mas isso não quer dizer que ele é necessário ou essencial. Vale a aquela máxima tão conhecida por nós que atuam no âmbito jurídico: “Cada caso é um caso”.

É aí onde entra o tal do QR Code em petições jurídicas. Será que nós juristas estamos sabendo utilizar essa ferramenta em nossas petições?

“Comece com a experiência do usuário e depois defina a tecnologia usada”, disse Steve Jobs.

Uma das contribuições que observo nessa intersecção entre o mundo do design e o mundo do direito está na maneira de pensar sobre problemas e soluções. Pensar como um designer pode trazer muitos benefícios p/ o mundo jurídico.

“(…) um produto se inicia a partir de uma necessidade real do usuário” (Fabricio Teixeira, “Introdução e boas práticas em UX design”)

No caso do QR Code, antes de utilizá-lo, é interessante entender primeiramente que o contexto de sua utilização ultrapassa os limites da petição. Quem é o usuário da sua petição ou requerimento? Quem será o responsável direto em ler a sua petição? O magistrado possui um servidor intermediário como redator de minutas? Já conversou com essas pessoas sobre o que elas achariam de um QR Code numa petição inicial?

Uma segunda lição que tenho aprendido por meio do UX Design é que é muito comum a gente fazer suposições e acreditar piamente nelas. O bom designer não fica congelado em suas suposições. Ele procura entender quem é o seu usuário e busca validar ou invalidar suas suposições e confirmar ou não aquilo que considerava uma certeza. Além disso, ele procura também sanar as eventuais dúvidas que possui. Com todas essas informações em mãos, fica bem melhor de buscar uma solução para o problema que ele tenta resolver.

Mas, voltando cá para o QR Code [e longe de mim querer condenar o seu uso], a primeira vez que ouvi falar de uma petição com essa ferramenta, questionei de imediato: “se fosse lá no meu Regional muito gente ia passar batido nesse QR Code ou então não ia sequer saber como abrir a informação”. E aí, se consideramos que em algumas comarcas no interior o celular pode não funcionar direito, a situação fica um pouco mais complicada.

Aí vem a terceira lição aprendida. Em UX Design a gente aprende que um bom designer sabe defender muito bem as suas decisões porque elas foram tomadas de maneira racional. Ele tem bons argumentos p/ justificar o porque disso ou daquilo ter sido feito de tal forma.

No caso do QR Code, talvez seja importante a gente ter de forma bastante clara quais os motivos por trás da decisão de apresentar a informação num formato diferente do costumeiro.

Há muito ainda que poderia ser discutido aqui. Contudo, meu objetivo nesse momento não é esmiuçar detalhes, mas tão somente destacar que não adianta a gente “importar” conceitos e ferramentas de forma desmedida e em total desconexão em relação ao mundo a que pertencem. E olha … o QR Code foi meramente a desculpa ideal para iniciar essa conversa. Mas e você? O que acha dessa junção entre design e direito?

Penso que é uma realidade que certamente irá se expandir cada vez mais e não me parece que será um modismo passageiro.

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